6 – A PRÁTICA DA ADORAÇÃO (Parte 1)
Introdução
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Deus mandou que seu povo, sob a
Antiga Aliança, cumprisse ao pé da letra todas as Suas instruções a respeito da
adoração (Êxodo 25.9). Foi Deus quem planejou a participação dos sacerdotes e
levitas no culto que Ele mandou que oferecessem (1 Cr 9.33).
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Após a leitura do A. T., estranhamos
o fato de não descobrirmos no N. T. regras explícitas para nos informar que
tipo de culto Deus quer.
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Atos 2.42 - Adoração, para manter o
padrão apostólico, deve se aprimorar no ensino, comunhão, celebração da Ceia e
oração.
A Doutrina dos Apóstolos
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Doutrina (gr. didachē,
"instrução"), não significa apenas granjear informação. Não foi uma
aula bíblica acadêmica que os apóstolos ministraram, mas ensinamentos junto com
apelos aos "discípulos" para que acatassem as diretrizes do Senhor.
Quando igrejas do século XX dão uma ênfase exagerada à transmissão da
informação e não à sua expressão, elas promovem depressão espiritual.
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W. Tozer disse em “O Conhecimento do Santo” que o que mais
importa a respeito de um homem é o que ele crê a respeito de Deus. Para crer
torna-se essencial saber, ser instruído.
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O conteúdo dos evangelhos, antes de
ser escrito, teria sido primeiramente comunicado aos iniciantes na fé em
pedacinhos e retalhos, até que eles alcançassem uma vida madura. O quadro do
discípulo descrito nos evangelhos de Mateus e Marcos foi formado para encorajar
leitores das décadas 60-70 a não se desanimarem na longa caminhada.
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O A. T. também foi a Bíblia da
Igreja3 Nas reuniões eram feitas exposições de textos dentro da nova visão
cristã. Novas aplicações de velhas passagens receberam o endosso dos apóstolos
que se formaram na "escola" de Jesus. Tudo se transformara dentro da
perspectiva cristológica, ao aplicar a verdade à vida, como vemos nas mensagens
de Pedro, em Atos.
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O ensino dos apóstolos tinha como
alvo prioritário "dar a conhecer qual seja a riqueza da glória, isto é,
Cristo em vós, a esperança da glória, o qual anunciamos, advertindo a todo
homem e ensinando... a fim de apresentar todo homem perfeito em Cristo"
(Cl 1.27, 28). O culto servia como instrumento que levava à maturidade.
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1 Ts 1.5; 2.13
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Os cristãos de Jerusalém
"perseveraram na doutrina dos apóstolos" porque os discípulos
"haviam estado com Jesus" (At 4.13) durante centenas de horas num
período de três anos. A adoração, na prática, deve dar lugar central à palavra
de Deus porque Ele assim ordena. Se a maioria dos adoradores de uma igreja não
sente a convicção do Espírito, nem um incentivo para corrigir os erros que comete
e, ainda, não está crescendo para plena maturidade, algo de importante está
faltando nos cultos. "Perseveravam na doutrina dos apóstolos"
comunica a seriedade com que a igreja de Jerusalém encarou a importância da
Palavra para o culto.
Comunhão
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A alegria e entusiasmo tomavam conta
dos recém-batizados no Espírito. 'Tomavam suas refeições com alegria e
singeleza de coração" (v.46) indica que barreiras que separavam os irmãos
desapareceram. O espírito de egoísmo foi substituído pelo desprendimento que
caracteriza uma família onde há amor e comunicação. A generosidade era natural
naquele ambiente.
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Ações de graça pelo sacrifício do
Filho de Deus incitam os filhos beneficiados a indagar como se desincumbir da
obrigação imposta Que presente digno devemos trazer para o altar cristão (cf.
Mt 5.23s)?
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O pano de fundo da eucaristia cristã
descobre-se na refeição da Páscoa. Além de relembrar (repetindo as palavras
interpretativas) a morte de Jesus e a inauguração da Nova Aliança, a Ceia
confirmava, de maneira inconfundível, que todos os participantes tinham uma
vida em comum. Ricos e pobres, livres e escravos, todos se comprometiam diante
de Deus a ter e manter uma responsabilidade mútua, uns pelos outros.
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A participação "em memória
(anamnēsin) de mim" quer dizer que a igreja agradece e honra o doador de
uma salvação de infinito valor. Mas também deve ser a ocasião de se formar o
corpo e de se edificar a igreja.
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A "koinonia de Jesus
Cristo" (1 Co 1.9) não pode estar restrita a uma congregação ou
denominação. Como declara o apóstolo João: "O que temos visto e ouvido,
anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão
(koinonia) conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus
Cristo" (1 Jo 1.3). Quando adoramos, declaramos e mantemos comunhão com
Deus e também com os que o conhecem.
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A comunhão passa da teoria à prática,
nos cultos e na mútua cooperação de irmãos.
O Partir do Pão
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Esta frase de Jesus quer dizer
"tomar uma refeição", como podemos verificar em Atos 20.11
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As ocasiões pós-ressurreição, nas
quais o Senhor comeu pão em Emaús (Lc 24.30) ou peixe em Jerusalém (Lc 24.42s.
), provavelmente causaram festas comemorativas. Importante é o relato
preservado em João 21.13, onde Jesus, após sua ressurreição, tomou o pão e o
deu aos discípulos, seguido pelo peixe.
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Se perguntarmos que significado
tinham essas refeições para os crentes reunidos em culto, descobriremos a
característica de gozo e júbilo religiosos. Naqueles cultos em torno das
refeições, os celebrantes estavam prevendo o futuro banquete messiânico, as
chamadas "bodas do Cordeiro" (Ap 19.9). Então, a presença do Senhor
na reunião da igreja para "partir o pão" unia o passado histórico, o
presente espiritual e o futuro escatológico.
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Paulo descreve a alegria da festa,
que tão facilmente podia descambar para a desgraça em Corinto (1 Co 11.20-22).
Provavelmente nas mentes dos crentes associava-se esta festa, a Ceia do Senhor,
com festas pagas nas quais os adoradores honravam seus deuses por meio de
orgias caracterizadas por muita comida, bebida (alcoólica) e divertimento
desenfreado. Paulo critica duramente os coríntios que tão vergonhosamente
desonraram o Senhor e a igreja, embriagando-se e comendo antes que os pobres e
escravos chegassem. Eles não entendiam que a santa comunhão não se manifesta
sobre a mesa, mas em volta da mesa.
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A alegria da “festa agapé"
precisava ser temperada com o drama espiritual que Jesus inaugurou na noite em
que foi traído (1 Co 11.23). Aquela Ceia pascal, celebrada por Jesus, marcava o
início da Nova Aliança e a formação do novo povo de Deus. Este povo deve ser
marcado pela humildade dos seus líderes (Jo 13.14) O amor mútuo (Jo 13.34).
As Orações
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O judeu do primeiro século
dificilmente podia imaginar um culto sem orações, pelo menos na sinagoga. Consequentemente,
era natural que os primeiros cristãos continuassem essa prática.
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Ainda que pensando num sentido mais
geral, a oração se distingue da adoração pela preocupação do suplicante com
suas necessidades, enquanto a adoração conceitua a alma sobre seu Deus. Um
comentário puritano sobre o Salmo107 dizia "A miséria instrui
maravilhosamente a pessoa na arte de orar".
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Mas as orações bíblicas valorizam a
comunhão com Deus. Como aparelhos complicados, projetados para uma função
particular, deixamos de alcançar o objetivo de nossa existência fora da
comunhão que a oração cria Egoísmo, soberba e murmuração aniquilam a comunhão.
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Amar a Deus acima de todo objeto por
ele criado só pode significar que Ele quer ser conhecido e desejado pelas Suas
criaturas. Por isso, as orações dos santos são qualificadas como o incenso que
enche os vasos de ouro nas mãos dos 24 anciãos que rodeiam o trono do Senhor do
universo (Ap 5.8; cf.8.3).
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A oração, mesmo quando elevada de uma
forma particular, não pode estar isolada do contexto social. Deus é nosso Pai,
não meu Pai. Deste modo, não nos aproximamos do trono da graça sozinhos, mas
com o irmão, e até com a igreja.
1. O
princípio da dependência: Jo 15.5
2. O
princípio da união: Mt 18.19
3. O
princípio da comunhão: At 4.24
4. O
princípio do reconhecimento da grandeza de Deus: Is 37.15-20
5. O
princípio do paralelismo nas Escrituras: Rm 15.4; Hb 4.16
6. O
princípio de prioridades: At 4.27-31
Extraído do livro
“Adoração Bíblica” do Dr. Russell P. Shedd. São Paulo: Vida Nova, 1993, págs 67-
104.