Capítulo 9 : OBSTÁCULOS À ADORAÇÃO
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Não é raro, em cultos realizados na
igreja haver o sentimento de que faltou o mais importante. Trata-se do essencial
na adoração, que é o encontro com Deus, Se a presença dEle não se toma
real para os adoradores.
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Se a frieza caracteriza os momentos
que devem promover vitalidade espiritual, recomenda-se uma pesquisa sobre os
possíveis impedimentos, e sobre como livrar-se deles. Seguem algumas sugestões.
1 - A Atitude Incoerente com a Adoração em Espírito
e em Verdade
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A adoração de Caim foi rejeitada pelo
Senhor. (Gn 4.1-16)
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Caim não estava em condições de
cultuar, porque odiava seu irmão (1 Jo 3.11-15).
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É necessário retirar do íntimo todo e qualquer
espírito faccioso (eris, "dissenção" e echthra, "inimizade",
em Gl 5.10, texto grego),1 se pretendemos
nos aproximar de Deus.
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O contexto da bem conhecida afirmação
de Jesus, "onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio
deles" (Mt 18.20), frisa a necessidade de que todo aquele que cultua
perdoe seu irmão, para que possa esperar o cumprimento desta promessa (Mt
18.21-35).
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Assim tentou fazer o servo que foi
perdoado de uma dívida absurda de dez mil talentos (trezentos mil quilos de
prata), mas não perdoou seu conservo que lhe devia cem denários apenas, uma
soma irrisória se comparada a sua própria dívida. (Mt 18.15-35)
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Tão sério é este impedimento no culto
cristão, que Jesus ordenou que quem chegar à reunião da igreja com uma oferta para
os necessitados, num ato de adoração característico da igreja primitiva, e
lembrar-se de que um irmão na fé tem alguma coisa contra ele, será obrigado a
deixar de ofertar para primeiramente reconciliar-se com o irmão ofendido (Mt 5.23,24).
2 - As Exterioridades e o Tradicionalismo
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Os quacres, em 1650, reuniam-se sentados em círculo,
esperando que o Espírito movesse alguém e o inspirasse a proferir uma palavra
da parte de Deus. Tinham um desejo legítimo, que tornou-se uma prática
tradicional pouco eficaz aos adoradores.
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O livro de oração que rege os cultos
episcopais (anglicanos) teve sua origem no desejo de se apresentar um culto
ordeiro, sem imprevistos, uma liturgia completa de palavras escolhidas, sem
lacunas.
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Contudo, o apego aos modos
tradicionais acarreta o perigo constante das exterioridades, da hipocrisia e da
desonestidade. Deus se compraz "na verdade, no íntimo e no
recôndito". O adorador precisa conhecer a sabedoria (Sl 51.6).
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A experiência e a reação de Jesus,
durante os dias da Sua jornada na terra diante dos rituais judeus, deve nos
fazer parar e refletir. A tradição dos anciãos induziu os religiosos contemporâneos
de Cristo a não comerem sem lavar cuidadosamente as mãos, juntamente com outras
aspersões e lavagens destinadas a retirar a contaminação religiosa Deus ordenou
que Seu povo evitasse a contaminação (Lv 11.47). Jesus avaliou o ritual meticuloso
como hipocrisia, um exemplo de vã adoração.
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As exterioridades corroem qualquer
prática bem intencionada ou inocente, seja a de bater palmas, ajoelhar-se,
ficar em pé, levantar os braços ou sentar-se num banco da igreja.
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Porém, de Deus não se zomba (Gl 6.7).
É impossível enganar Aquele que nos conhece totalmente. Se houver qualquer
hiato entre o nosso falar e o nosso modo de agir, Deus o saberá antes Mesmo de começarmos
a adorá-lo.
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Se queremos "pisar os átrios de
Deus", o mais importante é a nossa humilhação na presença da santidade incomparável
de Deus. (Mt 11.25-30)
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Para que o adorador evite o obstáculo
das exterioridades na adoração, ele deve se curvar em humildade sincera, e
reconhecer a sua indignidade.
3 - O Obstáculo da Rotina
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Surgem hábitos que passam a regular a
nossa vida e nos fazem ignorar a necessidade de aprendermos e renovarmos constantemente
as nossas atitudes, de forma que haja um desgaste muito menor de nossa energia
cerebral.
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Nas relações interpessoais os hábitos representam
um perigo. As esposas queixam-se de maridos que não lhes dão atenção.
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Com muita facilidade a rotina pode
caracterizar os cultos. Aquilo que atraía e empolgava no início da vida cristã passa
a ser um hábito irrefletido, um caminho percorrido automaticamente, de maneira
que a sua utilidade se perde. Se o culto se torna monótono, uma repetição
cansativa, colocará um obstáculo terrível à verdadeira adoração. (Is 1.11-20)
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Ao examinarmos o livro dos Atos dos
Apóstolos, nos primórdios da igreja, não encontramos cultos rotineiros, cansativos
e pesados. (At 20.7-12)
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A descrição da igreja de Sardes, no
Apocalipse, destaca o problema da rotina, apenas quarenta anos após o Início dessa
igreja. (Ap 3.1-6)
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Para que a adoração mantenha a sua
legitimidade, o adorador precisa estar disposto a pensar, a mudar os hábitos
estéreis.
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Quando a oração e o louvor não são a
principal alegria, quando a reunião semanal dos membros da igreja em culto não
proporciona empolgação, podemos detectar um sinal de que Deus não é bem
conhecido. Preocupamo-nos conosco mesmos, com nossas necessidades e interesses,
mas não com o Pai que aguarda ansiosamente a comunhão com o Seu filho tão
amado.
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"Adorar não é uma parte da vida,
mas é a própria vida". (G. Vann)
4 - O Mundanismo
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Mundanismo quer dizer tudo que compõe
a vida independente de Deus. (1 Jo 2.15-17)
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Torna-se claro que o mundo estimula o
desejo de possuir, dominar e impressionar. Segundo M. Muggeridge, o único
desastre absoluto é "sentir-se em casa" neste mundo.
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O compromisso do discípulo com a
pessoa de Jesus e Seus mandamentos afasta o perigo do mundanismo. (Jo 17.14-19)
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Em vez de as vaidades humanas serem o
ímã da vida, o homem renascido pelo Espírito deve colocar o Senhor como centro
e circunferência de sua vida.
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2 Tm 4.10-11
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"Se você se encontra amando
qualquer prazer mais do que as orações, qualquer livro mais do que a Bíblia,
qualquer casa mais do que a de Deus, qualquer mesa mais do que a do Senhor,
qualquer pessoa mais do que Cristo, qualquer indulgência mais do que a
esperança do céu, então tome conhecimento do perigo que você está
correndo!" (T. Guthrie)
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Orgulhar-se da aparência, da voz com
que se canta louvores, da mensagem ou da eloquência, através da qual se pretende
transmitir a palavra viva de Deus, é um sentimento indigno de todo culto
oferecido a Deus. (Mt 23.27-29)
5 - O Pecado Não Confessado
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Pecado consciente, cultivado e
defendido no recôndito do coração, não pode deixar de ser motivo intransponível
para Deus nos negar o prazer de Sua companhia. A santidade do Senhor e o apego
obstinado a alguma impureza, por parte de um filho, torna impossível a adoração
real. (Sl 66.17-20)
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Por um lado, cada falha precisa ser
especificamente apontada e colocada no altar de Deus. Isaías reconheceu o foco
do seu pecado nos lábios impuros. (Is 6.5; Hb 12.1-2)
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Em verdade, sabemos que Cristo promete
habitar nos seus discípulos (Jo 15.5), mas essa comunhão bendita depende da
lavagem dos pés, a Sua remoção da imundícia acumulada nos intervalos entre os períodos
de adoração.
6 - O Desinteresse e a Ingratidão
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A época em que vivemos se notabiliza
pelos grandes empreendimentos e mudanças rápidas. Entretenimento e diversão
tornaram-se gêmeos bem-vindos aos lares não só dos não-cristãos, mas dos
cristãos também. Mas, qual é o preço espiritual que se paga pelos duvidosos
prazeres que os meios de comunicação oferecem?
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Os cristãos pagam a conta com a moeda
do desinteresse pelos valores eternos. Na balança da vida, colocamos num prato
as preocupações, interesses, atrações, enfim, tudo o que preocupa o pensamento.
No outro prato, colocamos os elementos básicos que compõem a adoração: louvor, comunhão
com Deus, gratidão e busca do reino de Deus na oração. (Lc 12.13-21)
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Não devemos concluir que seria
aconselhável desligar-se das fontes de comunicação, mas, sim, conscientizar-se
do horrível obstáculo que elas levantam contra a adoração real, a menos que o
cristão concentre sua atenção nos valores eternos.
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O segredo é procurar cortar o que
desvia a atenção e esfria a alegria no Senhor. Tudo o que Deus quer para Seus filhos
é bom, não podre. Deve, portanto, ser recebido com ações de graça e consagrado
pela palavra de Deus e pela oração (1 Tm 4.4-5).
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Paulo recomenda uma peneira para a mente
cristã. (Fp 4.8).
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Se escolhermos uma dieta saudável para
a mente, não será difícil adorar ao Senhor de forma a agradá-lo.
7 - A Preguiça e a Negligência
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O cansaço atinge os mais zelosos se
não houver uma vigilância persistente contra este inimigo silencioso do
bem-estar espiritual. (Is 40.30-31)
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A desgraça de muitas igrejas é
evidente. Há mais zelo entre comunistas ateus e mais fanatismo entre adeptos de
seitas heréticas do que entre os membros do Corpo vivo de Cristo.
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A negligência no culto que devemos
oferecer não danifica a comunhão apenas para o indivíduo ocioso. Isto afeta negativamente
a todos. Os novos aprendem dos mais velhos, que "não faz mal chegar tarde,
abandonar o culto de oração, ou dar uma escapadela no fim de semana". (Hb
10.25)
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O sono, frequentemente, apodera-se do
adorador ou porque este deitou-se tarde ou porque mantém um ritmo de trabalho
acelerado. O adorador descobre que não tem disciplina necessária para
concentrar-se na oração, no significado da leitura do texto bíblico e nem na
exposição da Palavra.
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Antes da traição, Jesus convidou seus
três discípulos mais íntimos a vigiarem em oração. Três vezes eles dormiram na
hora da angústia do Mestre (Mc 14.32-41).
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Aprende-se a negligência da mesma
forma como se contagia com o zelo. Os membros preguiçosos contaminam a comunhão
dos santos. (1 Ts 5.14-15)
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A preguiça aumenta num ambiente onde o
culto não é valorizado. Várias maneiras e expressões da adoração já sofreram
notável desvalorização em face da secularização de nossa época.
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João Calvino dizia que o coração
humano é uma fábrica perene de ídolos.16 Certamente,
ele não estava se referindo a imagens de Jesus, de Maria e dos santos, mas à
imaginação que se curva diante dos falsos deuses, como o dinheiro, a beleza e o
conforto. A negligência da adoração deve ser encarada como um sintoma da
idolatria do coração.
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Quase sempre, a diminuição da fome
pela comunhão com Deus tem alguma explicação razoável. Aos poucos, alguma coisa
vai ocupando o espaço que antes abrigava o Espírito. Paixão por alguém do sexo
oposto, um "hobby", descoberta de "novas" verdades num
livro filosófico; enfim, qualquer desperdício de energia mental ou espiritual
que deixe a pessoa desmotivada para um culto vital.
Extraído do
livro “Adoração Bíblica” do Dr. Russell P. Shedd. São Paulo: Vida Nova, 1993.