INTRODUÇÃO
· Se alguém nos perguntasse
a razão de os cristãos passarem tantas horas preciosas sentados nos templos,
cantando, orando e ouvindo mensagens, teríamos uma resposta fácil: Deus ordena
que O adoremos.
·
À luz do preço infinito
da salvação pago na cruz, todo sacrifício de tempo, dinheiro e esforço físico
sempre será pequeno. Adoramos a Deus
porque o amamos e cremos firmemente que Ele deseja nossas fracas tentativas de
expressar nossas ações de graça e dedicação.
·
Mas, adorar tem um valor
extra Com muita razão, um escritor desconhecido disse: "A adoração
transforma o adorador na imagem do deus diante do qual ele se curva". Esta
conseqüência precisa ser cuidadosamente focalizada. Se alguém fizer do dinheiro
seu deus, para ele as pessoas serão desvalorizadas em prol da ganância Paulo
advertiu Timóteo: "Os que querem ficar ricos caem em
tentação e cilada... as quais afogam os
homens na ruína e perdição" (1 Tm 6.9).
·
Se uma outra pessoa tiver
a saúde e o bem-estar do corpo como seu deus, ela trocará o culto cristão por
uma praia, montanhas e clubes. Suas economias financiarão a compra de vitaminas
e alimentos sadios. Livros que orientam os leitores acerca de cuidados com o
corpo físico substituirão a Bíblia. Os adeptos desta forma de pensamento
mudarão assim a afirmação do apóstolo Paulo: "O exercício físico para tudo
é proveitoso, mas a piedade para pouco é proveitosa... (1 Tm 4.8)
·
Se alguém elevar sua
família ao trono supremo e perante ela se curvar, certamente será despedaçado
pelas vontades divergentes e conflitantes que ali florescerão. Não foi apenas
de forma teórica que Jesus declarou: "Ninguém pode servir a dois
senhores" (Mt 6.24). Há também alguns que se chamem deuses, quer no céu,
ou sobre a terra, como há muitos deuses e muitos senhores, todavia para nós há
um só Deus... para quem existimos, e um só Senhor... " (1 Co 8.5, 6).
·
Qualquer que seja o deus
que cultuamos, dele aprenderemos como viver, alerta-nos para os efeitos de uma
adoração voltada para um "senhor" deste mundo. Uma vez que a maioria
das pessoas não adora ao Deus verdadeiro, não é de admirar que os valores se
encaixem na seguinte deturpação das bem-aventuranças:
Felizes são as pessoas petulantes e
atrevidas, pois delas é o progresso na vida.
Felizes
são os insensíveis, pois nunca permitem que as coisas da vida lhes afetem.
Felizes
são os estúpidos, pois nem se apercebem dos erros que cometem.
Felizes
são os que dirigem com prepotência, pois assim é que obtêm bons resultados dos
outros.
Felizes
são as pessoas instruídas, pois sempre conseguem sair bem em qualquer situação.
Felizes
são os valentões, pois, só pela fama que criam, todo mundo já os trata com
cuidado. "1
Mas
fica assentado que à medida que a adoração é verdadeira e oferecida pelo
Espírito ao único Deus, haverá efeitos provocados pelos benefícios dessa
comunhão.
1- SEGURANÇA
·
O primeiro benefício que
o culto em espírito e em verdade trará ao adorador deve ser a segurança íntima
Crianças inseguras dependem de cobertores, chupetas e outros meios para
substituir os braços maternos que lhes apertam contra o peito, e que na
realidade são insubstituíveis.
·
Todos nós encaramos a
incógnita da vida. Não podemos prever os acontecimentos de um dia e, muito
menos, de um ano ou uma década. Criam-se a insegurança e a ansiedade que podem
paralisar o homem que não se firmou no Senhor.
·
Salmos (42 e 43) apontam
especificamente para a adoração real como a solução para a insegurança que
todos enfrentam no desencadear dos acasos, num futuro desconhecido. À luz desta
necessidade que todo ser humano tem, deve-se conclamar os adoradores, repetidas
vezes, em cultos dos mais diversos, a uma fé viva no Deus Todo poderoso que faz
com que todas as coisas cooperem para o bem daqueles que O amam (Rm 8.28).2 A
adoração edifica a fé sobre a Rocha divina que opera em todos os acontecimentos
segundo o propósito de Sua vontade (Ef 1.11).
·
Os desafios da vida
cortam-nos as pernas e machucam nossos pés. Onde haverá um terapia que levante
nossos olhos para o horizonte e nos faça andar confiantes e esperançosos? A
resposta bíblica sempre será: "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia
nele, e o mais ele fará" (Sl 37.5).
"Confia no Senhor de todo o teu coração e não te
estribes no teu próprio entendimento, reconhece-o em todos os teus caminhos e
ele endireitará as tuas veredas" (Pv 3.5, 6).
2- COMUNHÃO E RECONHECIMENTO MÚTUOS
·
O segundo efeito de uma
adoração bíblica, conforme o coração de Deus, será a comunhão mútua na família
de Deus. Um casal cristão, sofrendo de incompa-tibilidade de gênios, poderia
assistir ao concerto de uma orquestra e arrepiar-se com a beleza e a força da
música, mas os problemas de relacionamento em pouco ou nada melhorariam.
·
Nos capitulos anteriores
vimos em Atos 2 e 4, 1 João e Mateus 25 que conhecer Jesus Cristo implica no
reconhecimento dos que a ele pertencem. Adorar o Pai estimula a apreciação
pelos "filhos". Se este não é o resultado do culto prestado pela
igreja, pode-se concluir que ele não é verdadeiro, mas espúrio, uma simples
forma sem essência.
3- SANTIFICAÇÃO
·
O terceiro efeito notável
que o contato com Deus produz é a busca da santificação. Sentimo-nos tão
incomodados ao tomar conhecimento dos nossos deslizes morais e falhas
espirituais na presença do único Deus santo, da mesma forma como nos
sentiríamos usando roupas imundas, rasgadas e malcheirosas, na sala do trono,
diante de um rei.
·
O desejo ardente de
receber a lavagem que afasta nossa culpa, como ocorreu com Pedro na noite em
que Jesus foi traído (Jo 13.9, 10), e a busca da santidade são conseqüências da
aproximação de Deus, no Espírito.
·
Desse modo, o culto deve
fazer-nos parar de usar a língua para mentir, xingar ou murmurar (Ef 4.29, 31).
Uma língua oferecida inteiramente a Deus somente emite palavras "boas para
edificação" (v.29); fala a "verdade em amor" (4.15). Se, como
foi dito há muito tempo, "a única intolerância de Deus é o pecado",
será impossível ficarmos tão cheios de auto-satisfação diante das evidências
que uma consciência bem instruída pela Palavra nos fará ver, quando vivemos
realmente na presença de Deus. Se a
"regeneração é a fonte, a santificação é o rio"
4- VISÃO TRANSFORMADORA
·
O homem que normalmente
vive na presença do único Deus terá sua visão do mundo mudada. Aos poucos,
enxergará tudo do ponto de vista divino. "A capacidade de pesar todas as
coisas na balança de Deus e dar a elas o mesmo valor que Deus dá é a marca da
vida cheia do Espírito". Quando olhamos para a superfície, apenas para o
presente, e não visualizamos o significado central nem o efeito eterno,
demonstramos nossa comunhão superficial com Aquele que em troca da alegria que
lhe estava proposta, suportou a Cruz.
·
A pessoa que examina a
realidade à sua volta, fica contente ou triste pelo que vê. Mas será que o seu
gozo é compartilhado com o Rei do Universo que está vendo estas mesmas
circunstâncias e fatos?
·
Judas viu o recipiente de
bálsamo partido e o conteúdo despejado. Sua visão defeituosa não permitiu que
se alegrasse com Jesus nesse ato de amor (Jo 12.5-8). Paulo e Silas
aparentemente tinham tudo para ficarem revoltados e tristes na prisão de
Filipos. Mas, surpreendentemente, a visão que haviam obtido pela constante
comunhão com Deus só deu motivos a louvores (At 16.25). O resultado da íntima
comunhão com Deus cria o desejo de colocar a honra de Deus acima da própria segurança
física
5- EVANGELIZAÇÃO
·
O quarto efeito de um
culto digno do Senhor será o desejo crescente do adorador de ser testemunha de
Jesus Cristo e arauto das boas novas acerca dEle. O Mestre convidou os discípulos a seguirem-no
(Mt 4.19; Mc 1.17; Lc 5.10), mas os enviou sem obrigá-los a ir.
"Ser-me-eis testemunhas em Jerusalém, Judéia e Samaria e até aos confins
da terra" (At 1.8).
·
O propósito de Jesus para
aqueles homens rudes e simples realizou-se pela comunhão (Mc 13.14) e pela
concessão do Espírito Santo (At 1.8). Dessa forma, o Senhor deixou muito claro
que a comunhão com Ele e o poder que dEle se originava motivaria toda a
realização da tarefa missionária Se as igrejas evitam a comunhão permanente com
o Arquiteto da Igreja (Mt 16.18), não é de se admirar os erros que os
"mestres de obras" cometem. Nem deve-se estranhar a facilidade com
que os trabalhadores desistem da obra ainda tão longe do término.
·
A adoração é a chave de
ouro que motiva a evangelização. Os seres viventes e os vinte e quatro anciãos
cantam o novo canto porque reconhecem a dignidade do Cordeiro que comprou com
seu sangue os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5.9). Aqui
na terra há um reflexo deste cântico em nossos cultos, mas freqüentemente são
palavras expressas com pouco amor e sem o estímulo do Espírito Santo.
6- PREOCUPAÇÃO COM A ALEGRIA DE DEUS
·
Um efeito deve ser
almejado acima de todos os outros. Diz respeito a Deus, não principalmente a
nós. Deus procura verdadeiros adoradores que O glorifiquem. Se O adoramos de
acordo com suas normas, ele se alegra (Cl 1.10; cf. Lc 15.32). "Porque
dele e por meio dele e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória
eternamente" (Rm 11.36).
·
A única maneira de
verificarmos se Deus agradou-se de nosso culto é conhecê-lo tão bem, a ponto de
não haver possibilidade de erro. Jesus, e não os judeus, agradou sempre ao Pai
porque Ele O conhecia, mas eles não (Jo 8.29, 55). Se nos apegarmos à verdade
revelada na Bíblia até ao ponto de "habitarmos" na sua palavra (Jo
8.31), certamente chegaremos a conhecer melhor a Deus.
·
Para conhecer bem um
homem, tomam-se necessários contatos maiores do que aqueles que, normalmente,
um carteiro tem. Mesmo o convívio com um colega da escola ou da fábrica não
proporciona a oportunidade de penetrar profundamente além da casca de um homem
complexo.
·
Somente um filho ou a
esposa pode reivindicar que conhece bem a personalidade do pai ou do marido. Um
ato realizado por um filho de um ano de idade pode suscitar prazer ao pai, mas
se a mesma ação for praticada pelo mesmo filho, cinco anos depois, decepciona e
irritará o pai. Isto não acontece pelo fato de o pai precisar de estabilidade
mental, mas unicamente porque espera que a passagem
dos anos produza maior maturidade por parte do filho, "a santificação é
progressiva; se ela não cresce é porque não vive".
·
Assim também se deu no
relacionamento de Jesus com seus discípulos. Eles começaram sua caminhada em
plena ignorância (Jo 1.35-39, 46). Incrivelmente, após uns dois anos ainda viam
a realidade espiritual de maneira cega, como gatinhos recém-nascidos (Mc 8.18).
Seus ouvidos eram comparáveis aos de um velhinho que não capta o que se passa
ao seu redor (Mc 8.18). Seus corações tinham mais em comum com um coco seco do que
com o órgão no peito que faz circular o sangue (Mc 8.17).
·
Esta péssima nota que
Jesus deu a seus alunos não quer dizer, de forma alguma, que ele não se agradou
com a decisão que tomaram de segui-lo. Sem dúvida, após aqueles dois anos (cf.
Mc 8), entendiam bem mais do que nos primeiros dias.
·
Mesmo no fim da jornada
em que os discípulos foram chamados de amigos (e não escravos), porque
"tudo que ouvi do meu Pai vos fiz
conhecer" (Jo 15.15).
“Jesus falou da vinda do Espírito que
os guiaria a toda a verdade" (Jo 16.13).
*Um conhecimento profundo e atualizado
é resultado unicamente de um convívio íntimo e contínuo com Deus.
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Mesmo os que dirigem os
cultos deixam de perceber que a maioria dos cristãos passa seus anos sem jamais
parar para perguntar se Deus está satisfeito com o culto a Ele oferecido.
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Quando a adoração
realmente acontece, duas pessoas se aproximam, sendo a primeira Deus, em sua
majestosa perfeição, e a segunda, um pecador cansado pela futilidade de suas
ambições não alcançadas.
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A adoração deve
reconcentrar nossas preocupações em Deus, desviando-nos das circunstâncias ao
redor. Por Deus ser o supremo valor, de que valerão os "bons" ou
"maus" acontecimentos que nos assediam? Tozer declarou: "Quem
tem Deus e mais nada não tem menos do que o homem que tem Deus e tudo
mais". Enquanto não adorarmos da forma verdadeira, esta frase apenas será
uma frase bonita. Um dos efeitos mais notáveis da convivência com Deus será
sempre o que Paulo expressa nestas palavras: "Para mim o viver é Cristo"
(Fp 1.21). Agostinho falou uma grande verdade ao afirmar: "Deus encontra
prazer em nós quando encontramos prazer nEle".
Extraído do
livro “Adoração Bíblica” do Dr. Russell P. Shedd. São Paulo: Vida Nova, 1993,
págs 141-151.
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